30/04/2009
2ª BIENAL DO LIVRO
"Bienal é uma celebração política da literatura goiana"
“Eu acho que podemos pensar essa Bienal em várias dimensões. Nós, pesquisadores, escritores, colegas da música, todo mundo, padecemos de uma espécie de síndrome, que nós mesmos aceitamos, que é a de que tudo que está na periferia é de segunda categoria. Se eu publico um artigo numa revista de São Paulo ele tem caráter nacional, se publico numa revista de Goiás ele tem caráter regional. Meus colegas de música reclamam a mesma coisa, os que escrevem romances, contos, dizem a mesma coisa. Então, eu acho que a Bienal tem, primeiro, essa importância política, que é dizermos para nós mesmos que temos literatura de qualidade, que temos produção em várias linguagens, desde romances, contos, literatura infanto-juvenil, pinturas, temos criações muito importantes, mas, às vezes, nós próprios, goianos, a consideramos como regional, pequena, periférica. E eu acho que a Bienal precisa dar conta de dar essa sacudida em nós goianos. Nós produzimos livros bons em todas as linguagens, e isso precisa ser celebrado, então eu acho que antes de tudo a Bienal é uma celebração política.
Depois, eu acho que tem uma importância de trazer as crianças, os adolescentes para dentro da Bienal, para eles terem contato com o livro, com os escritores, conversar com os escritores, pedir autógrafo, pedir explicação, como é que o senhor escreveu isso, como é que surgiu essa história. Eu acho que o gosto pela leitura ele tem que ser desenvolvido, não é uma coisa inata. Então a Bienal tem isso também. Tomara que esta Bienal seja tomada de crianças. Muito barulho de crianças.
Uma terceira importância que eu coloco é o fato de, nesse momento, o Governo de Goiás, a Secretaria de Educação, homenagear um escritor vivo. Isso também tem muita importância, é uma atitude corajosa que marca a necessidade de que a gente reconheça nossos talentos, as coisas boas que são produzidas aqui, diante da própria pessoa. Acho que isso tem um grande valor. E se é pra homenagear um vivo, eu acho que o nome de Bariani Ortencio caiu muito bem, porque Bariani é uma unanimidade, inclusive entre os próprios colegas. Ele tem um reconhecimento dos colegas escritores. Então foi muito importante essa escolha. Ele não é uma pessoa de atividade acadêmica, universitária, mas ele tem um tino de catalogador, de colecionador, de classificador das coisas, e fez essa trilogia de grande importância regional (dicionário, cozinha goiana e medicina popular).
Mas, como leitor, eu penso que o grande mérito de Bariani Ortencio é o conto. Para mim, ele vai estar, nessa homenagem, principalmente com o seu conto regionalista. O conto do Bariani, para mim, é primoroso, é muito bem acabado, tem humor, tem interpretações que a gente possa tirar. Eu gosto muito do conto e já disse isso a ele, que ele vai ser lembrado daqui a 50 anos ou mais, pelo conto. Eu acho que o conto dele é muito bom. Então, eu acho que essa homenagem ao Bariani é de grande importância para nós. Tomara que todos os escritores se sintam representados, compareçam e deem às crianças e aos adolescentes a alegria de estarem lá, convivendo com os escritores nos estandes.”
Jadir Pessoa, atropólogo e pesquisador, professor da UFG